Cuidado com erros bobos

Não são as grandes pedras no caminho que te derrubam. São as que você não vê.

Um grande amigo me recomendou que eu ouvisse o podcast do Pedro Cerize no Market Makers.

Como gosto do Cerize e já não ouvia podcasts sobre mercado financeiro há tempos, baixei o podcast e fui treinar ouvindo-o.

Cerize é um monstro. Suas ideias são bastante não ortodoxas, mas fazem sentido.

E melhor do que isso: ele faz dinheiro.

Ele adora dizer que não está no business de estar certo, mas sim no business de fazer dinheiro.

Já estava ouvindo o podcast ha 1 hora e estava adorando. Vários insights interessantes sobre o que está acontecendo no Brasil e no mundo, algumas ideias do que o governo poderia fazer para melhorar. Algumas ideias de investimentos…

Até que em dado momento ele foi fazer um paralelo do mercado com astronomia e começou a falar como funciona uma estrela:

“Nitrogênio queima e vira hélio".

Puta… isso é uma atrocidade científica. Não é nitrogênio que vira hélio. É hidrogênio.

Ouvir aquilo foi como tomar um soco na barriga.

Mas mal sabia eu que não era um soco só. Era uma sequência.

Na próxima frase, ele explica que esse processo de transformação dos átomos se chama fissão nuclear.

Foi demais para mim.

Estava adorando o podcast, mas assim que ele falou essas duas atrocidades estelares, parei de ouvir e fui reclamar com o amigo que me recomendou o podcast.

Meu amigo, muito mais evoluído do que eu, me convenceu de relevar, afinal ele não é um astrônomo e, o importante era a ideia por trás.

Concordei com ele e voltei a ouvir o podcast.

O assunto muda e vira política americana.

Eis que ele fala que a Halliburton, empresa da qual o ex vice presidente americano Dick Cheney foi CEO, era uma empresa de armas.

Ora. A HALLIBURTON!?

ARMAS!?

A Haliburton é uma empresa de petróleo.

Depois desse outro deslize, me emputeci.

Mais uma vez dava para relevar porque esse ponto não era central à ideia que ele estava trazendo.

Mas não consegui.

Parei de ouvir o podcast. Não ouvi até o final.

Mas mais importante do que esse rage-quit foi a reflexão que esses comentários me trouxeram.

É bizarro como erros bobos podem tirar toda a credibilidade de um argumento.

Me peguei pensando em como evitar esse tipo de deslize.

Cheguei a conclusão que a melhor forma de se precaver não é não se aventurar em domínios distantes da sua expertise: isso tornaria o mundo muito chato.

Talvez o caminho seja só ligar o pisca-alerta verbal no início do assunto.

Algo como “posso estar falando algumas bobagens, mas foque no big picture".

Comecei a ouvir o podcast para ter insights sobre economia, mercado e política.

Acabei tendo reflexões profundas sobre como construir um argumento sem cair em armadilhas.

A vida prega peças.

PS: o podcast é esse aqui https://open.spotify.com/episode/6URCgUFl9cHwPoOLSpKdoU?si=4N3Nf6slT-mtRphg3824mQ não ouvi até o final, mas recomendo fortemente. Tirando os deslizes, as ideias são poderosíssimas!