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Frango do Saara X Frango de Atlantida e como o PIB mundial cresce YoY
Em determinado momento da minha vida, morei numa república com 2 outros amigos.
Todos na casa trabalhavam por volta de 10-12 horas por dia, eram pão duros e estavam focados em ter uma alimentação saudável.
Por isso, a gente fazia a própria comida, ao invés de gastar dinheiro a toa e comer comida gordurosa de restaurantes.
Lembre-se que a gente trabalhava de 10-12 horas por dia.
Assumindo que se dorme 8 horas no dia, faltam de 4 a 6 horas para cozinhar.
A gente valorizava mais gastar pouco tempo cozinhando do que fazer comida boa.
A panela elétrica de arroz ajudou muito. Fazer arroz era bem prático. O primeiro que chegasse do trabalho jogava 2 xicaras de arroz, 4 de água e ligava a panela. Em algum momento alguem desligava.
Sim. Sem tempero nem nada.
O objetivo era ter pouco trabalho.
Mas ainda tinha o problema do frango (a gente não tinha air fryer).
O frango era feito da seguinte forma:
2kg de sassami de frangos eram colocados na assadeira num verdadeiro TETRIS para caber tudo. Sal e pimenta do reino a gosto.
E ia pro forno.
Por quanto tempo?
O tempo de uma partida de jogo de tabuleiro entre nós 3.
Uns 35-45 minutos.
Não vou mentir.
O frango ficava seco.
Não não… você não entendeu. Eu estou falando beeeeeeeeeeeeem seco.
A marmita era arroz e frango e ponto final.
Com o tempo, descobri que colocar ricota e mostarda melhorava o gosto facilitava a deglutição ao adicionar alguma umidade ao prato.
E botar mostarda e ricota dava pouco trabalho.
Lembre-se que dar pouco trabalho e gastar pouco tempo era o nome do jogo.
U M L I T R O D E Á G U A
Certa vez um colega de trabalho foi trabalhar na nossa cidade e ficou na nossa casa.
Como gesto de hospitalidade, oferecemos uma marmita para ele também poder comer comida caseira em vez de gastar dinheiro e comer comida gordurosa.
Na hora do almoço, todos esquentamos nossas marmitas e começamos a comer.
Quando ele botou a primeira garfada na boca, deu para ver no olho dele que ele sentiu o golpe.
Correu até o filtro de agua com sua garrafinha do Google de 1L e encheu inteira.
Ele bebeu 1 (hum) litro de água antes de acabar um prato de arroz e frango.
No meio da saga gastronômica ele falou:
"Caralho, esse frango é do Saara?"
Uma bela homenagem ao frango ÁRIDO que parecia mesmo ter vindo de um deserto.
Desde então, essa receita se chama “Frango Saara”.
Vivi mais um ano nessas condições hostis até que voltei a minha cidade natal e voltei a comer melhor.
Hoje me vejo num dilema parecido: tenho que cozinhar e não tenho horas sobrando todo dia. Mesmo que tivesse, não queria gastar cozinhando.
Mas hoje sou um cara mais sábio.
Procuro receitas na internet.
Descobri que o peito de frango inteiro, em vez de sassami é muito melhor para ir no forno porque ele tem menos superfície de contato em relação ao peso. Isso faz ele perder menos água.
Também descobri que é muito melhor colocar um timer e fazer na temperatura certa.
Resumo: hoje gasto menos tempo: 24 minutos e como um frango muuuuuuuito melhor. Molhadinho.
O Frango Atlantida.
Acabei de fazer um agora.
A aparência não é tão boa porque não chega a dar aquela coradinha por fora. Mas o Frango Saara era coradinho e era uma merda.
E o capitalismo?
Essa história toda me fez refletir sobre o fato do capitalismo não ser um jogo de soma zero, igual muito esquerdista acredita.
Eles acreditam que para ter um cara muito rico, tem que ter um passando fome.
Não é bem assim.
Existe ganhando de produtividade. O PIB mundial cresce todo ano, mostrando que não é um jogo de soma zero.
Um dos exemplos clássicos para demonstrar isso é um fazendeiro que planta e realiza sua colheita sem ferramenta nenhuma.
Ele tem pouquíssima eficiência no seu trabalho.
Se uma outra pessoa começa a criar ferramentas para arar a terra e para colher melhor, ela pode vender esses produtos pro fazendeiro.
O fazendeiro gasta seu dinheiro com as ferramentas, mas agora ele consegue produzir muito mais.
Bingo.
Produtividade acabou de ser gerada.
Não precisou um ficar pobre para o outro enriquecer.
Ambos ficaram melhor do que antes.
É uma questão de melhorar a eficiência de seus processos.
Quando eu fazia o frango do Saara, eu era o fazendeiro sem ferramentas.
Hoje, fazendo o frango atlantida, só tenho a agradecer pelo arado que me foi dado.